domingo, 29 de setembro de 2019

'Não posso ser falsiane, a casa cai', diz Ivete Sangalo
Postado Por: iveteonlineCompartilhe:


Ao ver a foto no celular da repórter, que puxa o aparelho para gravar a entrevista, Ivete Sangalo quer saber: “Sua filha?”. É a deixa para a mãe de Marcelo, de 9 anos, e das gêmeas Helena e Marina, de 1 ano, engatar conversa sobre o assunto.

— Se eu não tivesse dado esse intervalo todo, teria tido muito mais filhos — diz.

Num camarim dos Estúdios Globo, a cantora de 47 anos está prestes a encarar mais um “The Voice Brasil”, programa cuja semifinal acontece na próxima terça-feira e a final, na quinta. Ali, ela acompanha cada passo das crianças, que ficaram na Bahia, via celular.

— Tem que ver o almoço de amanhã, ontem foi abóbora...

Filhos à parte, o telefone motivou também uma regra que Ivete se impôs.

— Ir a aniversários e não levar celular. Esse negócio virou melhor amigo mesmo onde estamos cercados de verdadeiros amigos — diz Ivete que, em 2020 terá, pela primeira vez, camarote no carnaval de Salvador. Para esta conversa acontecer, ela fez um pedido: não falar sobre política.

Antes, você fazia o “The Voice Brasil Kids”, como foi a mudança?

O Kids foi mais complicado, dizer “você fica, você não” à criança de maneira honesta para que, em vez de ser incrível, aquilo não se torne um inferno. Eu, mãe, transferia a imagem delas para o meu filho. Na hora das decisões, era um abismo. Me via naquelas crianças, querendo cantar aonde fosse. E quanto mais gente me visse, melhor, sempre fui exibida. Com adulto tem cuidado, mas é mais fácil.

Você é conhecida no programa por ser meio mãezona...

Criei uma relação afetiva com eles ( os candidatos do seu time ), que esperam respeito na hora de serem ouvidos. Se vou numa apresentação do meu filho na escola, fico atenta a tudo porque ele vai me perguntar “minha mãe, você viu aquela hora?”. Não importa se é para a TV, para o Madison ( Square Garden ) ou um show na rua, quando a pessoa está inteira ali, você não pode deixar isso escapar.

Como é o clima nos bastidores? Outro dia, você fazia transmissão ao vivo no Instagram, Lulu entrou no seu camarim e cantou? Acompanha a repercussão nas redes?

Fico ao lado do camarim da Iza e do Teló, se ouço alguém tossir, levo uma água, um soro. Trago tapioca da Bahia, a Iza traz bolo, é uma festa. Acompanho tudo. A maior conquista da minha carreira é essa relação. Eles sabem que eu jamais faria algo meramente estratégico.

Seu figurino é um acontecimento, né?

É uma parceria com o Marco Gurgel. Na final do “The Voice” passado, estava sem tempo e ele fez uma roupa longe de mim. Quando vesti, ela aconteceu. Ele descobriu a minha proporção. Tenho perna grossa, sou grandona. Nem tudo que é lindo, veste bem. Coisas que nem acho incríveis, caem como uma luva. Claudia ( Leitte ) me mandou mensagem dizendo “Porra, mana, você tá linda”, Ju Paes também elogiou. Estou me achando ( risos ).

Como será o show do Rock in Rio hoje?

Estou preparando uma homenagem divertida, a abertura vai ter um charminho. O show tem relação com o do Allianz Park ( em São Paulo, para comemorar seus 25 anos de carreira, em dezembro ), porque o Rio ainda não viu. Rock in Rio é boca seca e coração aqui, ó ( aponta para a garganta ). Lembro a primeira edição, tinha 13 anos e ouvia: “Nina Hagen, Cazuza. Blitz”. Eu era louca pela Blitz. Dizia: “Pai, quero ir”. E ele: “Vai estudar”. Desejei tanto que estou no Rock in Rio em quase todas as edições.

Você abre o Palco Mundo. Tem artista que não gosta de cantar de dia...

Não tenho essas coisas, mas também não acho frescura. Para mim, o que importa é música e não criaria coisas que me impedissem de estar na festa. Meu horário é esse aí!

De onde vem esse seu jeito sincerona? É de família?

Sou a caçula de seis filhos. Era casa cheia, com volume em tudo. Meus pais nos ensinaram a praticidade de ser real. É muito mais fácil viver sendo sincerona, do que criando maneiras de driblar isso. É menos trabalhoso viver na realidade do que na imaginação. Ficaria fica exausta.

As pessoas se identificam com a sua espontaneidade...

Sou intensa, não paro de pensar. Quanto mais objetiva e honesta eu for, melhor para o meu temperamento. O povo entende que minha fala é constante. As pessoas me conhecem, não dá para ser falsiane, a casa cai ( risos ). O que sinto é honesto. Pode juntar o Maracanã que estou ali, segura do que acredito.

Sua frase “quem é essa aí, papai, tá cheia de assunto”, virou bordão, mas também gerou problematizações sobre ciúme e machismo...

Eu não vi isso. Foi divertido, uma coisa à la Ivete. Nos últimos anos, houve uma euforia com essa coisa de viralizar. Hoje, sinto que perdeu a força. É como um brinquedo novo, a gente come e se lambuza e agora diz “não, isso tem glúten, tem gordura”. Rede social é divertido, mas há o lado negro da força. Recebo muita coisa que apago. Agora é a onda da figurinha. No nosso grupo do “The Voice”, a gente não quer nem saber o que está acontecendo, quer é salvar nos favoritos ( risos ).

Fazem figurinhas suas?

No começo do programa, fico na postura, bonitona. Aí, os caras entram pra cantar, tenho que me conectar. No outro dia, minha família começa a mandar ( Ivete interpreta de acordo com as ações ): “Acordando”, “Fazendo cocô”, “Recebendo boleto”. É diversão. A gente sabe a verdade das coisas, mas e esse tesão de passar a diante? É preciso se educar. Coisas depreciativas, eu não repasso. Temos um pleito grandioso e perdemos tempo com pequenas coisas. A gente fala sobre empatia e repassa vídeo que não tem empatia nenhuma.


Você fez um discurso sobre diversidade no Rock in Rio Lisboa. Por que é importante defender a liberdade de amar?

Tem uma canção de Roberto Carlos que diz assim ( canta ): “Além do horizonte deve ter, algum lugar bonito pra viver em paz”. A gente dá o crédito a algo que ainda vai acontecer para sermos felizes. Tem que ser agora, já. É empatia, amor são coisas que temos que exercitar. Com o coletivo, com você mesmo. Se cuidar, cuidar de quem ama, perceber o outro.

Mas a sociedade anda bem intolerante...

A intolerância é um exercício do amor próprio. Se você não se ama, não tolerará que os outros se amem. Quando a gente fala isso também é um “ei, você é importante, perceba”, e isso faz com que a pessoa vá amaciando. A intolerância tem a ver com “eu não sou feliz, então não quero que você seja”. Mas condenar quem não se aceita também é intolerância. Não dá para amar só pessoas legais, incríveis, tem que saber amar o que você acha errado, mas que na cabeça do outro tá certo

fonte : globo
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