quarta-feira, 4 de junho de 2014

5 motivos: para ouvir o álbum “Multishow ao Vivo - Ivete Sangalo 20 anos”
Postado Por: iveteonlineCompartilhe:


Embora a minha paixão tenha reacendido no final da adolescência, o meu relacionamento com a axé music - no caso, Ivete Sangalo - vem desde criança: das poucas memórias que tenho dos anos que cresci em Salvador, a maioria delas (registradas em fotos, até) são com a temática da música, seja dançando É o Tchan, ouvindo um CD de Babado Novo ao vivo em Natal comprando no camelô, sendo chamado de “Pererê” por minha tia, ou ouvindo minha mãe cantar “Carro Velho” para meu pai do banco de trás. Hoje, a música baiana em questão não está mais em evidência como estava nos anos 90 ou sequer ainda lutava por espaço depois da metade dos anos 2000.

Embora a música e alguns artistas ainda sejam lembrados em certas regiões do país (no Nordeste, principal e obviamente), o gênero perdeu muita força na indústria cultural. No entanto, no meio desse percusso, uma personagem principal se tornou maior do que a música, chegando a patamares nacionais e internacionais jamais alcançados por outros cantores nas últimas décadas. Completando 20 anos de carreira (e sucesso), ela gravou um show icônico na “terra de mainha” que só reitera como e por que Ivete Sangalo ultrapassou as barreiras da axé music e é a maior artista brasileira (arrisco a dizer, latina) da atualidade.

1. “É porque eu fiz axé music que o Brasil me ama!”

"E essa nossa música é única. É personalidade, é raiz. Viva a Bahia!" - SANGALO, Ivete

Antes das festas serem tomadas por músicas que exploram a sexualidade, o álcool ou a ostentação, diversos artistas baianos entoavam canções com declarações de amor ao próximo, à vida, à Bahia. E não digo isso querendo desmerecer as outras produções culturais, afinal, os tempos são outros, o mundo mudou e as pessoas mudaram - o que nos representava antes pode não nos representar mais. Além de diversos outros fatores que merecem ser analisados porém em outra circunstância.

Mas deixando de lado a análise da transformação desse produto de cultura de massa, o que realmente transcende no trabalho é o clima de nostalgia. Uma vez que Ivete começa a cantar “Beleza Rara” (um daquelas músicas que mesmo quem não curte sabe a letra de cor) logo após o discurso acima, reafirma o quanto essa canção (e o gênero como um todo) esteve presente no cotidiano de milhões de brasileiros por muito tempo como representação da cultura baiana. O medley continua com “Tum Tum Goiaba”, “Pra Sempre Ter Você”, “Fã”, “Miragem” e termina numa explosiva “Eva” (da qual falarei mais adiante).  Passando por músicas menos conhecidas pelo público geral, ela insere uma conexão com os fãs que se mostra presente constantemente no trabalho (desde o local escolhido para a sua realização) através de favoritas daqueles que a acompanharam por essas duas décadas.

Mas homenagem ao gênero retorna em “Miragem” e, principalmente, “Eva” uma das maiores e mais influentes músicas brasileiras - certamente um patrimônio cultural intangível. O medley “Flor do Reggae”, outra música que estourou pelo Brasil, com “Mega Beijo”, ainda carrega o teor lírico e rítmico da axé music. Mas o maior destaque à Bahia está em “Adeus Bye Bye” e “Faraó Divindade do Egito / Ladeira do Pelô / Doce Obsessão” - duas músicas que ganham ainda maior valor visualmente mas que graças à competente produção do diretor musical e da banda, ganham proporções ainda maiores do que suas premissas. Na primeira, Ivete revive um sucesso que ajudou a projetá-la no repertório de Maria Bethânia ainda quando estava começando e que, com uma percussão mais forte, uma voz mais marcante e um instrumento de sopro (que eu ainda não identifiquei), é repaginada da melhor forma possível. E a segunda… Eu não tenho nem mais o que falar, então convido-os a escutarem (voltarei a ela na segunda parte):

2. Os duetos

Embora tenha nascida dentro de um gênero, ela nunca se limitou e se recusou a rotular a música popular brasileira. Afinal, quem coloca gênero são os comerciantes - música é música. Sendo assim, Ivete já se arriscou em diversos territórios musicais, sempre demonstrando competência como intérprete e acrescentando algo à mesa - principalmente, pelo menos para mim, quando canta samba. É por isso que “Me Engana Que Eu Gosto”, dueto com Alexandre Pires, é destaque entre as parcerias - uma samba que pode facilmente ser colocado entre as grandes canções de artistas como Alcione, Jorge Aragão e Martinho da Vila.

E se você é fã de (ou já foi atrás do trio com) Chiclete com Banana, “Pra Você” com Bell Marques relembra clássicos da banda como “Diga Que Valeu” e “Não Vou Chorar” - mas com um toque de Ivete que só acrescenta (novamente) à parceria. Outro grande momento do projeto é “Could You Be Loved”, com Alexandre Carlo (Natiruts), quando a calma do reggae de Bob Marley é substituída por uma produção muito bem feita com percussão e trompete (ou saxofone?). A música logo toma um tom arrebatador já característico da cantora, com o rap inserido no meio sendo o ápice desse teor “forte” adotado. O dueto com Saulo, “Cruisin’”, é outra canção que ela toma para si e repagina para deixar com a sua marca - e, diga-se de passagem, a de Saulo. Música de karaokê de qualidade.

3. As baladas

Outro grande lado artístico que consagrou Ivete durante anos foi sua faceta romântica, no qual se apresentam (e são revisitados no show, porém foram excluídas do CD) “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim”, “Quando A Chuva Passar”, “Faz Tempo” e “Deixo”. Esta última que pode ser facilmente relacionada à gostosinha “Amor Que Não Sai”, um reggaezinho que sustenta acusticamente mas ganha outros elementos para representar o reggae que sempre influenciou a artista. A produção e a voz de Ivete se complementam perfeitamente para um resultado satisfatório, mas cuja obra parece “fraca” frente as duas outras competidoras.

É onde entra “Beijo de Hortelã”, composição da talentosíssima Liah Soares (que encantou o Brasil com sua versão de “Asa Branca” no The Voice e assina músicas de Sandy & Jr.) - um bolero que acelera o ritmo para degustar do arrocha baiano. Embora o ritmo pareça o maior personagem da obra, é a voz suave de Ivete que completa a composição com uma das melhores gravações de sua carreira (na minha opinião). Já em “Só Num Sonho” é a própria cantora que toma as rédeas e conduz toda a música com sua voz num trabalho excepcional, tendo os violinos apenas como auxiliares dessa belíssima gravação. E a letra, minha gente, ajuda qualquer coração partido a seguir em frente.

4. Outros personagens

Quando os artistas vêm para o Brasil, eles se apaixonam com razão: o povo brasileiro além de ser desnutrido de amor internacional, sabe muito bem aproveitar a vida quando quer - e quando você está num show de seu artista favorito (que só vem lhe visitar 1 vez a cada dois anos), esse é um dos momentos para aproveitar muito. Embora a analogia não se aplique perfeitamente aqui, o público da Fonte Nova parece querer impressionar (e dar orgulho) à artista que acompanham há vinte anos. O coro de cada música (umas mais do que outras), é uma atração à parte. Coisa de arrepiar até os mais céticos, como acontece em “Eva” apenas na audição e é retificado visualmente.

Até músicas mais novas (e menos conhecidas) como “Vejo o Sol e a Lua” conseguem destacar a plateia (afinal, só tinham 40 mil FÃS no show) com alguns versos sendo trabalhados quase como um dueto. A energia em “Festa” e “Sorte Grande” também é facilmente reconhecida e o público acompanha a cantora dando show, esta particularmente bebendo do fenômeno funk na hora de entrar e sair - levantando ainda mais o astral da música. “Acelera Aê (Noite do Bem)”, que precede as duas no medley, é outra que arrisco dizer ser a mais bem produzida música gravada por Ivete - mesmo ao vivo nas duas ocasiões.

5. Pra brincar carnaval

Não se ouve mais essa expressão hoje em dia, né? Talvez ainda alguns saudosistas cariocas, mas é raro ouvir de baianos. Afinal, é esse um dos grandes atrativos da festa: sair com amigos pelas ruas, de abadá ou fantasiado, curtir as músicas, dançar e brincar carnaval - fazendo rodinha, pulando, inventando coreografia… “Obediente” é uma das inéditas que retoma esse espírito e que facilmente será produto de muita diversão nas micaretas e carnavais que a seguem. A letra despretensiosa (e com coreografia já embutida) é essencialmente fruto da expressão, ao meu ver.

Outra que segue essa linha é “Pra Frente”, que bebe da mesma fonte de “Cadê Dalila” (também no projeto mas que será comentada na segunda parte) e praticamente obriga mesmo àqueles chatos paradões a se mexer - e quem não quer que fique em casa. “Dançando” também ganha outro ar nessa regravação (“também bota no peitinho!”) e de enjoativa passa a divertida com direito (a grande participação do público novamente e) a explicação da coreografia que já se apoderou da música. “Real Fantasia” continua a grande injustiçada do disco homônimo, que ganhou forças sem precisar ser trabalhada porque é de uma força estrondosa já na sua essência.

Vocês acham que acabou o post acabou, foi?

Bônus: “Careless Whisper”

Da forma mais irreverente possível, Ivete termina o CD cantando a icônica “Careless Whisper”, de George Michael. Ela acelera um pouco o ritmo para sincronizar com seu ritmo e legitima, com ajuda do famoso trompete e uma percussão que já é marca, mais uma grande música para dançar juntin (além de outras coisas, né)

Fonte : 5motivos
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