quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

"O axé é um ritmo em processo constante de evolução", diz Ivete
Postado Por: iveteonlineCompartilhe:


Cantora de maior sucesso do Brasil e um dos principais nomes do Carnaval baiano, Ivete Sangalo tem uma visão otimista do axé. Nesta entrevista exclusiva à Tribuna, ela defende que o gênero não está em decadência nem precisa se renovar. “Não existe retrocesso em música, não existe retrocesso de sentimento. Se não te tocou, vai tocar outra pessoa. Música não pode ser vista como número, é atemporal.

O axé não precisa se renovar, se reinventar, mas isso vai da visão de cada artista que acha que precisa trazer novos elementos para o seu trabalho”, assinala. A cantora fala sobre a relação com os demais artistas baianos e sobre as mudanças vivenciadas pelo Carnaval ao longo dos anos, bem como as expectativas para a folia. Ao falar sobre o documentário Axé, do cineasta Chico Kertész, Ivete descarta ter sido uma voz discordante ao dizer que existia a união no mundo do axé e todos se ajudavam. “A minha resposta é uma impressão muito clara sobre a música na Bahia, acho que não é referente só a mim. No dia do ensaio de Saulo estavam Netinho, Katê, Carla Cristina, Gilmelândia, eu e Levi Lima. No ensaio da Timbalada teve Luiz Caldas, Daniela, Margareth… Se isso for inimizade, perdi completamente noção do que é amizade.

Desde que estou na Bahia, se você me perguntar se tenho uma relação conturbada com alguém, estaria mentindo. Acontece que muitas estratégias empresariais fizeram ter discordâncias entre os empresários, e isso foi passado para os artistas de uma forma irresponsável, quase que dilacerante. Os artistas que tiveram discernimento para saber que aquilo fazia parte do negócio, não se abateram”. E revelou: Quando saí em carreira solo, Daniela Mercury me ligou e me ofereceu o escritório dela e disse que eu poderia usar tudo ali. Como vou dar uma resposta diferente da que eu dei?”, pontuou.

Questionada sobre a emoção de controlar um mar de gente de cima do trio, Ivete diz que tem uma sorte grande de ser cantora. “O que me leva até as pessoas e o que traz elas para mim é o amor. Gosto demais de cantar, sou uma pessoa da música, e a alegria dessas pessoas me deixa alimentada. E o contrário é verdadeiro, quando estou bem, as pessoas vibram e torcem por mim. É carinho, respeito, alegria… Sinto isso, essa onda entrando no meu corpo”.

Na entrevista, a cantora foi questionada também sobre os últimos ensaios de verão, em que ficou muito claro o movimento liderado por ela e por outras estrelas do axé para fortalecer o ritmo, que passava por um processo de desgaste muito grande. No entanto, ela fez questão de enfatizar que não tinha ficado “mais ou menos atenta ao axé”. “Eu faço axé, não tenho como ficar desatenta a isso. Essa é a nossa onda.

O que acha que as pessoas falam é o fato de não sermos a música mais tocada do país, mas isso é cíclico. A gente já viu isso, cada um tem que ter vez. Acho que tem outras maneiras de movimentar a carreira, mas não podemos perder o vínculo e o pilar principal, que é gostar de fazer aquilo que fazemos, e eu amo o que faço”. E emendou um recado para os milhares de seguidores de todo o país: “Podem esperar pois eu vou chegar sempre, completa, cheia de alegria, com minha esponja emocional aberta, pronta para receber todo o amor que cada um têm por mim. Vou fazer sempre bonito, sem marcar bobeira, e vou botar quente!”
Confira:

Tribuna da Bahia - Ivete, a artista brasileira de maior sucesso no país. Como avalia o Carnaval hoje?

Ivete Sangalo - O Carnaval está se transformando aos poucos, como todos os movimentos, e não pode estagnar. Ele está se estendendo, esse ano, por exemplo, temos festa que não está nos dias tradicionais e se espalhou pelo país inteiro. Acho o Carnaval uma festa maravilhosa, existem todas as ordens de manifestações artísticas na rua, os artistas podem levar para a rua seus temas de forma lúdica, encontrar seus fãs, ter contato de uma forma mais intensa. Fico em torno de quatro ou cinco dias em contato direto na cidade. É uma festa linda, onde as pessoas podem se divertir, já está sacramentada a alegria.

Tribuna - O Carnaval de Salvador parece querer voltar às suas origens, sem cordas, quase meio século depois. As ruas continuam as mesmas, com a população quase três vezes maior? Ou mercado atual exige mais profissionalismo e ousadia de quem vive da música?

Ivete Sangalo - O Carnaval entende que há um pouco para cada um, para cada artista. Antes existia apenas uma única possibilidade, mas na minha cabeça hoje é muito diverso. E para tudo na vida, requer profissionalismo e responsabilidade. Para qualquer ação na vida tem que encarar com responsabilidade e profissionalismo. Mas obviamente no mundo temos pessoas que se relacionam de forma integral e íntegra com seus projetos, e pessoas que já não são tão ligadas naquilo.

Tribuna - Como é controlar um mar de gente de cima do trio?

Ivete Sangalo - Todas as vezes que eu estou cantando, me pergunto isso. Que sorte a minha ser cantora e como cantora ter conhecido tanta gente, tantos lugares e ter uma história de vida tão especial. O que me leva até as pessoas e o que traz elas para mim. Gosto demais de cantar, sou uma pessoa da música, e a alegria dessas pessoas me deixa alimentada. E o contrário é verdadeiro, quando estou bem, as pessoas vibram e torcem por mim. É carinho, respeito, alegria… Sinto isso, essa onda entrando no meu corpo.

Tribuna – No documentário Axé, do cineasta Chico Kertész, você foi uma voz discordante ao dizer que existe união no mundo do axé e todos se ajudam. Não seria só contigo, por ser o expoente maior e todos quererem estar bem com você?

Ivete Sangalo - Essa pergunta foi feita a mim a nada mais justo eu respondê-la. A minha resposta é uma impressão muito clara sobre a música na Bahia, acho que não é referente só a mim. No dia do ensaio de Saulo estavam Netinho, Katê, Carla Cristina, Gilmelândia, eu e Levi Lima. No ensaio da Timbalada tem Luiz Caldas, Daniela, Margareth… Se isso for inimizade, perdi completamente noção do que é amizade. Desde que estou na Bahia, se você me perguntar se tenho uma relação conturbada com alguém, estaria mentindo. Acontece que muitas estratégias empresariais fizeram ter discordâncias entre os empresários, e isso foi passado para os artistas de uma forma irresponsável, quase que dilacerante. Os artistas que tiveram discernimento para saber que aquilo fazia parte do negócio, não se abateram. Quando saí em carreira solo, Daniela Mercury me ligou e me ofereceu o escritório dela e disse que eu poderia usar tudo ali. Como vou dar uma resposta diferente da que eu dei? Não poderia dar Osvaldo. Se você perguntasse ao Brown, ao pessoal do Olodum, a Daniela e a outros amigos do axé, verá que temos uma relação forte de amizade. Por isso, é tão difícil para mim falar de atritos. Mas é ingênuo achar que só no axé não haveria discordâncias ou eventuais desgastes. Achei mal colocado aquilo. Aquele filme tem um registro de VHS, são circunstâncias muito pontuais. Por isso continuo afirmando a você que na Bahia somos todos muito amigos.

Tribuna - Nesse verão ficou muito claro o movimento liderado por você, em especial, e por outras estrelas do axé para fortalecer o ritmo, que passava por um processo de desgaste muito grande. Essa foi uma estratégia montada ou aconteceu de forma natural?

Ivete Sangalo – Não me interprete mal, Osvaldo, mas esse é um pensamento um pouco tendencioso. E quando meu tinha o Pier, que a cada domingo tinha umas 25 pessoas lá cantando comigo. E eu não acho que fiquei mais ou menos atenta ao axé. Eu faço axé, não tenho como ficar desatenta a isso. Essa é a nossa onda. O que acha que as pessoas falam é o fato de não sermos a música mais tocada do país, mas isso é cíclico. A gente já viu isso, cada um tem que ter vez. Acho que tem outras maneiras de movimentar a carreira, mas não podemos perder o vínculo e o pilar principal, que é gostar de fazer aquilo que fazemos, e eu amo o que faço.

Tribuna - O axé já foi a indústria mais rentável da música no Brasil, mas foi incapaz de abrir uma casa de espetáculos na Bahia. Ou estimular investimentos no setor. Os empresários do axé não tiveram visão para isso ou foram egoístas e quiseram olhar só para si?

Ivete Sangalo - Só eu tentei abrir quatro vezes, mas existe uma palavra chamada burocracia que impede e impediu. Agora deixa eu te falar uma coisa, ninguém faz as coisas sozinho. Não se pode caminhar sozinho. É uma burrice. Eu falo de mim, pois tenho muita autoridade para falar. Mas já tiveram muitos momentos em que já se tentou muitas vezes, mas ainda não conseguimos.

Tribuna - Você é um fenômeno, a maior artista brasileira. A que atribui esse sucesso e a estar se mantendo tanto tempo no topo do pódio, sendo tão amada por tanta gente do Oiapoque ao Chuí?

Ivete Sangalo - Acho que esse amor me mantém na cabeça das pessoas. Você falou para mim que era jornalista, que ocupava funções importantes, mas que gostava demais de mim, que era meu fã. E isso ninguém tira de mim. Isso não é estratégico, pois sentimos. É você ouvindo e sentindo minhas músicas, sentindo eu falar de amor, compartilhando momentos tristes e de felicidade, compartilhando a própria vida. O que une os fãs a mim, não sabemos nem a leitura disso, simplesmente nos une. Mas essa força me mantém abastecida como artista e pessoa. E vou contar um segredo só para você: eu trabalho muito (risos). As coisas vão acabar acontecendo.

Tribuna - O que Ivete Sangalo não fez ainda e gostaria de fazer?

Ivete Sangalo - Cinema, protagonizando. Tenho muita vontade de fazer cinema. E acho que um programa de TV, de entrevistas e música. Mas me pergunto se teria essa energia para tudo isso, em todo o tempo. Sou cantora, e vou continuar cantando sempre, pois gosto do que faço, mas em outras áreas não sei se é apenas euforia e desejo de foro intimo, ou se vai perdendo força à medida que o tempo vai passando.

Tribuna - Voltando para a música baiana... Você acha que ela estagnou? E qual foi a evolução do ritmo nos últimos três anos?

Ivete Sangalo - A música não estagna não, pai, porque ela não é fórmula. A música existe, não interessa se você usa elementos de 30 anos atrás ou explora novos elementos. Não existe retrocesso em música, não existe retrocesso de músico nem de sentimento. Se não te tocou, vai tocar outra pessoa. Música não pode ser vista como número, ela é atemporal. O axé não precisa se renovar, se reinventar, mas isso vai da visão de cada artista que acha que precisa trazer novos elementos para o seu trabalho. Mas não como uma regra, pois isso é imperceptível. O que pode parecer como uma renovação para você, pode parecer para mim como uma super falta de criatividade.

Tribuna - O sertanejo é o axé do século 21? No que eles estão na nossa frente?

Ivete Sangalo - Não, o sertanejo é sertanejo e o axé é axé. As coisas não são iguais, os tempos não são iguais. Cada um tem a sua onda, cada um tem a sua digital. Essa coisa de estar surgindo a nova Carmen Miranda, a nova Dolores Duran, não existe. Pois só existe uma Carmen Miranda e uma Dolores Duran. Não tem como misturar, cada um tem seu espaço, sua conquista, seus méritos… O axé só tem um. O sertanejo só tem esse, pois isso não tem como misturar. Tem espaço e conquistas para todos.

Tribuna – Preparada para vencer o Carnaval com a Grande Rio? Será uma emoção diferente da de puxar uma multidão atrás do trio?

Ivete Sangalo - Deus te ouça, irmão. Mas é tanta alegria, que sou rainha daquela história. Estou feliz demais, recebendo muito amor e é lindo ver aquilo acontecendo, a Bahia sendo cantada na Sapucaí. Estou muito envaidecida.

Tribuna - Qual a mensagem que você deixa para os milhares de fãs, espalhadas por todo o país, e que ficam ansiosos para te ver numa próxima apresentação? 

Ivete Sangalo - Que eu vou chegar sempre, completa, cheia de alegria, com minha esponja emocional aberta, pronta para receber todo o amor que eles têm por mim. Vou fazer sempre bonito, sem marcar bobeira, e vou botar quente!!!
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